Coragem para dizer a verdade.

27 de mar. de 2008 ·

Peço licença ao Sr. Bruno Mateus para publicar seu texto na página da Máfia Azul.

Neste dia tão importante para o Clube Atlético Mineiro, além de parabenizar o clube pela data histórica, parabenizo, também, alguns jornalistas e veículos de comunicação que conseguiram transformar algo em uma coisa muito maior do que realmente é. Não posso generalizar e parabenizar a imprensa, seria muito injusto com os profissionais que não contribuiram para isso. Esse "algo" a que me refiro é a torcida atleticana. Todos nós sabemos da força que tem a mídia e o poder que a mesma tem na construcao de mitos, heróis ou vilões. E, no meu ponto de vista, o tratamento que alguns setores da imprensa dá a essa torcida é descabido e, sendo mais crítico, anti-profissional. Não quero dizer que o sentimento da torcida atleticana foi inventado pela mídia, mas, sim, endeusado e elevado a níveis que beiram a catarse. Este sentimento existe, assim como o do cruzeirense existe, como o do gremista ou do botafoguense também. O torcedor atleticano nao é diferente dos outros. Já li e vi coisas que parecem ter saído da arquibancada atleticana, escrito pelo mais apaixonado torcedor, direto para as folhas de alguns jornais ou para os estúdios de algumas emissoras de rádio. A construção deste mito ao qual me refiro acontece de forma sutil, quase nao se percebe. Aliás, a maioria não percebe, ou finge nao perceber. Mas um olhar atento é capaz de detectar como é feita esta, desculpem a palavra, palhaçada. As reportagens não mentem os públicos dos jogos, tão pouco compram ingressos e obrigam os torcedores a irem a campo. Mas utilizam uma pratica jornalistica que pode ser usada tanto para o mal quanto para o bem: adjetivar os textos. Percebam, meus camaradas, alguns exemplos. Suponhamos que o Atlético ganhou, de virada, um jogo difícil contra o Vila Nova. No dia seguinte, as manchetes costumam estampar algo do tipo: "No embalo da massa", "Galo vira o jogo com ajuda da massa" ou "Galo joga mal, mas a massa garante a vitória". Imaginem isso ao longo de décadas. De tanto repetir, de tanto martelar, isso fica na cabeça das pessoas, criando um signo cheio de significados para a torcida atleticana. Paixão, fidelidade e amor são palavras que costumam estar atreladas quando o assunto é Atlético Mineiro. Não que não sejam, mas este sentimento nao é exclusivo dos atleticanos. Como ficam os torcedores cruzeirenses ? São só simpatizantes? Não são apaixonados? Cria-se um sistema equivocado e polarizado: atleticanos sao apaixonados e fiéis, cruzeirenses são apenas cruzeirenses, não tem a mesma paixao. Essa é, talvez, a pior das consequencias que este circo armado por alguns profissionais-torcedores provoca. Não posso deixar de citar quando, em 2006, o clube conseguiu voltar a elite do futebol brasileiro. O time chegou a Belo Horizonte com a vaga assegurada e os torcedores foram recepcionar a equipe. Nunca vou me esquecer da legenda que um site, dos mais acessados de Minas Gerais em matéria de esporte, colocou em um das fotos. A legenda, meus amigos, era a seguinte: "Uma multidão de 5 mil pessoas foi recepcionar o Galo... (o restante já nao me lembro mais). Uma multidão de cinco mil pessoas?!?!?! Eu ri e não pude acreditar no quão ridículo e a que ponto chegou a atuação da "GaloPress". Aliás, os níveis de adoracao para com a torcida atleticana atingiram níveis impressionantes na campanha da Série B em 2006. Cada jogo no Mineirão era uma festa. Festa da torcida, que comprava ingressos baratos e ia a campo ver seu time enfrentar adversários fraquíssimos; e festa da Imprensa Carijó, que se deliciava com manchetes e fotos cheios de adjvetivos, a fim de afirmar, alardear, cada vez mais, o sentimento alvinegro. Não se esquecam que as torcidas de grandes clubes, como Gremio, Palmeiras e Botafogo, quando estiveram na Segunda Divisão, fizeram a mesma coisa, enchiam os estadios. Mas não, só a torcida do Atlético é que tem direito a amar inconsequentemente seu clube!!! Gostaria de destacar um ponto importantíssimo: a torcida do Cruzeiro e essa parcela podre da imprensa a qual me refiro. Vou dar alguns exemplos e, tenho certeza absoluta, voces entenderão o que eu quero dizer. Cruzeiro e Fluminense jogavam pela Copa do Brasil de 2005. A equipe celeste perdia o jogo. O juiz apita e as equipes descem para o vestiário. Seria normal que os torcedores, aborrecidos com o resultado, vaiassem, fossem para os bares comprar cerveja (na época ainda se podia vender cerveja nos bares do Mineirão). Seria, mas o que aconteceu ali foi uma demonstração de amor, fidelidade e paixão que nunca se havia visto nos mais de 40 anos do Gigante de Minas. A torcida cruzeirense cantou, incentivou e gritou seu amor ao clube durante os 15 minutos de intervalo. Imaginem, meus caros amigos, se isso acontecesse em uma partida do Atlético. Coisas como "Massa dá show de paixão e canta todo o intervalo", "Torcida atleticana dá prova do seu amor ao time" ou "Mesmo no intervalo, atleticanos não abandonam a equipe". Lhes dou outro exemplo. Cruzeiro havia conquistado a Copa do Brasil de 96. Na chegada do time a Belo Horizonte, houve desfile em carro dos Bombeiros. 100 mil pessoas invadiram o Centro de Belo Horizonte para receber os campeões. 100 MIL!! Isso sim é multidão, não cinco mil torcedores!! Nao forcem a barra!! Eu me esforço para entender os motivos de tanta adulação. Sinceramente eu me esforcç, mas estou cansado. Estou farto de conversar com atleticanos que só sabem vomitar coisas do tipo "ser atleticano é diferente". Quando falam isso, eu paro e não converso mais. Nao dá, é muito pra mim !! Os culpados pela adulação iludem os torcedores mais inocentes e até os atleticanos, que acreditam nesse papo-furado de "Galo é religião e paixão" e, década após década, passam isso aos filhos, que repetem como meros animais miméticos o que o pai lhes ensinou. Arrogantes, gritam isso aos quatro ventos. Inocentes e patéticos, acreditam ser os mais fiéis e apaixonados torcedores do Sistema Solar. Foram hipnotizados pelo 'blá-blá-blá' e repetem coisas como "o atleticano acredita no impossível". Infelizmente, lutar contra o poder que tem esses torcedores-jornalistas é muito difícil. Lamentavelmente, essa lenda continuará por muitos anos, passará de geração para geração. A hipnose e o discurso serão os mesmos, reforcado por esses setores da imprensa que tanto critiquei aqui. Já dizia o filósofo de botequim que se pode inventar uma verdade, mas nunca transformá-la em realidade.

Bruno Mateus, é jornalista e reside em Buenos Aires - Argentina

1 comentários:

Zêro Blue disse...
27 de março de 2008 às 19:29  

Postei também esse texto no meu blog, é demais e sinceramente reflete a mais pura e cristalina verdade.

Parabéns Leônidas.

Carlão

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